02 Exclusivo: Signore Armani e o mar

Exclusivo: Signore Armani e o mar

Lifestyle

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O mar é inspiração constante para as criações de Giorgio Armani, das roupas às fragrâncias que levam a sua assinatura. Nesta conversa exclusiva, o estilista italiano relembra memórias al mare, cita Astrud Gilberto e explica por que o vaivém de novas ondas não é capaz de mudar a sua rota na indústria do luxo.

  • O estilista italiano GIORGIO ARMANI.

    O estilista italiano GIORGIO ARMANI. O estilista italiano GIORGIO ARMANI.

Foto: Cortesia de Giorgio Armani

“Elegância” é uma palavra muito utilizada para descrever o seu trabalho. Onde mais se pode ver elegância hoje em dia?

A elegância é um estado de espírito. Trata-se de ver e valorizar a essência das coisas. Quando eu crio, trabalho por meio de um processo de subtração, eliminando o excesso até ficar com o essencial. Ao tentar chegar à essência das coisas, ao remover o excesso, o resultado é atemporal. O terno perfeito. Essa qualidade de algo ser essencial, que considero ser a principal caraterística da elegância, é o que procuro fora da moda, também. Isso está presente no trabalho de alguns arquitetos — nas obras de Tadao Ando, por exemplo. Isso se encontra na beleza de um arranjo de flores ou numa cadeira de proporções perfeitas. Se procurarmos, encontramos a elegância. Mas hoje é realmente preciso procurar.

 

Um dos elementos-chave de sua longa carreira na moda é a consistência. Como vê o ritmo acelerado da indústria atual?

De fato, como você disse, é acelerado. Mas trata-se de um estado artificialmente induzido, que visa fazer o consumidor sentir que deve sempre buscar o novo, o atual. Nunca me interessei por tendências passageiras. Sou uma pessoa que acredita mais no estilo atemporal do que nas tendências. E é por essa razão que consigo ser consistente na minha abordagem ao trabalho. Sou apaixonado pela minha visão de uma estética elegante e, por isso, mantenho-me fiel a ela, àquilo em que acredito. Além disso, trabalho em um ritmo razoável, criando para pessoas que valorizam essa prática, mais ponderada.

 

O significado de luxo mudou com o tempo? O que, afinal, significa luxo em 2023?

Hoje as pessoas têm cada vez mais dificuldade de desacelerar e fazer as coisas com calma. Isso é particularmente problemático para o mundo do luxo. Luxo não é rápido, ele traz valores eternos.Devemos nos lembrar do prazer que vem com a alta qualidade e um design cuidadoso. Precisamos dedicar algum tempo a apreciar as coisas belas do mundo e das nossas vidas. Sentir o verdadeiro valor das coisas, dedicar tempo para se envolver de verdade com uma pessoa, um lugar ou um produto. É esse o verdadeiro significado do luxo. Ele vive em um objeto ou experiência de primeira classe, que foi produzido ou criado com cuidado, habilidade e paixão genuínos.

 

Agora, mais do que nunca, experiências como ter privacidade e estar longe da poluição visual e sonora também podem ser consideradas uma forma de luxo. Em que momentos encontramos esse tipo de luxo mais subjetivo?

O tempo passado com os amigos e a família é o luxo mais precioso. O tempo que passamos recarregando nossas baterias e nos afastando de tudo, também. Quando estou na minha casa de férias, na ilha vulcânica de Pantelleria, longe da agitação e do stress da vida na cidade, é um luxo. Também devemos nos lembrar que, recentemente, experimentamos o que significa sermos privados das nossas liberdades, como a de viajar, por exemplo. A liberdade também é um luxo – talvez o maior de todos.  

  • GIORGIO ARMANI aos seis anos de idade, acompanhado da mãe, Maria, na praia italiana de Rimini, voltada para o Mar Adriático.

    GIORGIO ARMANI aos seis anos de idade, acompanhado da mãe, Maria, na praia italiana de Rimini, voltada para o Mar Adriático. GIORGIO ARMANI aos seis anos de idade, acompanhado da mãe, Maria, na praia italiana de Rimini, voltada para o Mar Adriático.

Foto: Cortesia de Giorgio Armani

Na cabine de seu iate, Giorgio Armani guarda afetuosamente uma recordação da infância: a fotografia com a mãe na praia de Rimini, na Itália.

Tal como os brasileiros, os italianos têm uma relação especial com o mar. De que é feita a sua?

Quando era criança, fui a uma colônia de férias na costa do Mar Adriático. Minha mãe era vice- diretora de uma delas, em Misano Adriatico. Lembro que minha mãe, meu irmão e eu pegávamos um trem com assentos de madeira brilhante e éramos deixados no meio do campo, pois não havia estação por ali. O edifício da colônia era de um branco que se destacava contra o azul do céu e da água, tão bonito quanto um cartão-postal. Costumávamos ir para a água em algo que se chamava moscone, depois foi chamado de pattino: um pedalinho feito de duas tábuas pintadas de branco e um assento improvisado, com os dois remos nas mãos da minha mãe.

 

Guarda alguma recordação do mar italiano em especial?

Há fotografias que mostram minha mãe e eu na praia, uma delas fica na cabine do meu iate. É uma imagem em que estamos juntos na praia de Rimini [uma das mais famosas da Itália, voltada para o Mar Adriático], quando eu tinha cerca de seis anos. Ela está linda com sua saia preta e maiô, é assim que me lembro dela. Minha mãe costumava usar um maiô preto de lã com botões brancos do qual eu gostava muito. Ainda consigo sentir o cheiro do óleo de nogueira que ela passava na nossa pele para não nos queimarmos no sol. Associo o mar à minha mãe, por isso batizei meus dois iates em homenagem a ela: Mariù e Maìn são os nomes pelos quais era chamada quando era jovem e criança, respectivamente. O nome dela era Maria.

 

Como surgiu a paixão pela prática de velejar?

Falei anteriormente sobre o apelo da liberdade e, para mim, é isso que sinto na água. Há algo completamente libertador em estar no mar, numa embarcação que pode ir para qualquer lugar. Sempre fui um tanto romântico na minha infância, atraído por histórias de viagens e aventuras. Velejar me faz sentir que tenho o mundo ao meu alcance. Se quisesse, poderia apenas apontar o barco em uma direção e partir. Sem restrições. Totalmente livre.

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Foto: Cortesia de Giorgio Armani

“Há algo libertador em estar no mar, em uma embaração que pode ir para qualquer lugar”, diz o estilista.

Muitos elementos da Giorgio Armani – como as fragrâncias, por exemplo – prestam homenagem ao oceano. Na sua opinião, o que liga a marca ao mar?

Eu me inspiro na natureza – as cores, texturas e materiais do mundo natural estão sempre presentes no meu trabalho. O oceano é, sem dúvida, um fenômeno natural profundamente poderoso, sempre me inspirou. Seu frescor está presente em uma fragrância como Acqua Di Giò, sem dúvida, mas tem muitos temperamentos diferentes. A nova coleção do verão 2023, Mare, tem uma visão glamourosa e ensolarada da beira-mar.

 

Há alguma praia ou litoral brasileiro que gostaria de conhecer?

É um terrível clichê, mas uma das minhas primeiras impressões do Brasil veio ao ouvir a famosa canção “Garota de Ipanema” na voz de Astrud Gilberto; naturalmente, eu gostaria de ver a realidade. Mas também ouvi falar de muitas praias maravilhosas fora do Rio, como a Praia da Pipa, perto de Natal, e as praias de Itacaré e Trancoso, na Bahia. Adoraria conhecer essas praias e experimentar a atmosfera à beira-mar do Brasil – por tudo o que eu ouço dizer, é inesquecível.