SPFW: Helô Rocha tece a força e a poesia do Nordeste

A relação com tecidos e bordados, o fazer a mão e o artesanal fazem parte da cultura do Nordeste, que tem nas rendeiras e no alvíssimo branco das vestimentas do candomblé símbolos importantes do vestir. A região também é conhecida pelos eventos históricos, o folclore, a religiosidade, a música, a aridez do sertão e sua dura condição de vida, e, em oposição a ele, a beleza da costa, com mares de águas calmas.

Helô Rocha e Camila Pedroza embalaram esses aspectos notáveis do Nordeste em um desfile, que aconteceu no icônico Teatro Oficina, e uma coleção recheados de simbologias: as modelos, peregrinas, saem do sertão para encontrar o mar e, no processo, se transformam em Iemanjás e Marias Bonitas. “Essa é a nossa homenagem ao Nordeste, com duas realidades tão extremas: a do sertão, árido, forte, desafiador, e a do mar, do horizonte, da calmaria. É sobre memória afetiva, sobre peregrinação”, comenta Camila.

Nas roupas, as referências são evidentes, mas não folclóricas, e produzem resultado sutil, feminino e delicado. O branco é a cor simbólica, que colore rendas, tramas, algodão e tule. A corsetaria e o látex fazem contraponto com o artesanal, trazendo textura e estrutura que temperam as modelagens soltas ou volumosas com um bom punhado de sexy. Com esta volta da marca ao SPFW N56, a dupla comunica o retorno às atividades do sob medida, que incluem noivas.

"Para nos ajudar a construir esta narrativa, o trabalho da diretora de arte e stylist Ode foi fundamental. Mostramos o tema do desfile e ela contribuiu nos aproximando de talentos como a Monique Fei e o Pupillo, que fez uma trilha regional e contemporânea", explica Helô. Ex-Nação Zumbi, banda que apresentou o manguebeat ao mundo, Pupillo produziu um som que capta elementos específicos, como os sinos, em uma batida que ajuda a dar ritmo à profecia “o sertão vai virar mar”, tema da coleção.

Monique Fei, a que Helô se refere, é uma designer têxtil francesa radicada em Londres. Ela veio de lá especialmente para uma imersão de 7 dias no atelier paulistano da dupla, onde criou, com a ajuda de Matheus Igor, Stephanie Pereira, Beatriz e Isaura Bender, colaboradores brasileiros, três looks autorais, em que combina o látex e o crochê com apelo fetichista - linguagem pela qual é conhecida. Uma vez aqui, se surpreendeu com as diferenças culturais relacionadas aos materiais. “A oposição entre o látex e o crochê está no centro do meu trabalho há 7 anos. Aprendi que, no Brasil, o látex é associado ao natural, à seringueira, e não ao fetiche, enquanto o crochê é um artesanato tradicional, e não ‘atividade de solteirona’. Foi muito interessante descobrir essas novas perspectivas”, contou ela à Numéro Brasil.