29 Numéro entrevista: Simon Porte Jacquemus

Numéro entrevista: Simon Porte Jacquemus

Moda

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Nascido em Bramejean, na região de Bouches-du-Rhône, na França, Simon Porte Jacquemus conquistou corações e subiu os degraus da moda ao impor seu universo solar e hedonista. Uma verdadeira história de sucesso, sua grife independente Jacquemus, que celebra o humor, a poesia das paisagens da sua infância e a liberdade dos corpos, mantém hoje uma boutique na prestigiada Avenue Montaigne. Adorado por um grande público fiel, o estilista francês nos conta mais.

É verdade que a sua vocação para a moda surgiu quando você fez uma saia com cadarços de Converse e uma cortina?

Sempre fui fascinado por moda e principalmente pela minha mãe, quando era criança. Ela era muito criativa na sua maneira de se vestir, única do gênero no vilarejo. Ela ia me buscar na escola todos os dias, com looks incríveis... Ela me ins- pirou demais. Eu ficava muito entediado quando era criança. Um dia, quis vesti-la e comecei criando uma saia com as cortinas de linho da nossa sala, e amarrei com um cadarço de Converse. Ela usou a saia, eu fui a criança mais feliz do mundo! Desde então, nunca parei de criar roupas.

 

Em que contexto você cresceu, quando criança, em Bramejean [Bouches-du-Rhône], e como você viveu sua homossexualidade lá?

Eu transbordava energia, era obcecado por roupas e queria muito ir a Paris para estudar em uma escola de moda. Queria criar formas, looks para minha mãe, minha avó... Falava disso constantemente. Como eu era o único garoto gay da minha escola, quando me isolavam ou me insultavam, eu queria ser ainda mais diferente. Encontrei refúgio na internet com o Skyblog e o Myspace, onde publiquei ensaios fotográficos que fazia na minha garagem ou no meu jardim. Eu era obcecado por moda, e ela despertou em mim o desejo de criar minha própria marca desde muito jovem.

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Foto: Yann et Marco

No início, há mais de dez anos, você criou um happening, o que já demonstrava a sua visão inovadora da moda, fora dos padrões habituais. Em retrospectiva, como você enxerga esse evento disruptivo?

Esse momento ficará gravado na minha memória. Meus amigos e eu éramos jovens, estávamos prontos para fazer qualquer coisa para termos sucesso na moda e sermos notados. Na época, a integração nesse ambiente parisiense muito fechado me parecia impossível. Desejo essa motivação e essa vontade de sucesso a todos os jovens. Eu não tinha nada a perder! Tenho lembranças muito positivas disso.

 

Depois de focar no humor e na diversão, você anunciou que queria adotar a sofisticação. Essa é uma decisão duradoura, ou o humor pop sempre fará parte do seu vocabulário?

Durante o meu desfile intitulado Le Papier, quis voltar para algo mais minimalista, sensual e romântico. Esse desfile também foi uma declaração de amor ao meu marido, Marco Maestri... Já no desfile Le Raphia, as cores e as estampas pop se misturam com peças minimalistas e sensuais. As referências pop e a diversão sempre farão parte do meu vocabulário.

 

Você também já fez desfiles em Marselha e em um campo de lavanda em Valensole, no décimo aniversário da sua marca. Você se considera responsável por apresentar o Sul da França, vivido por uma pessoa do sul, a um público internacional – longe dos eternos clichês da Riviera, de Nice, Saint-Tropez, etc.?

O Sul faz parte da minha identidade e da Jacquemus. As paisagens e visões com as quais eu cresci alimentam constantemente as minhas coleções. Para mim, é importante contar histórias ligadas a essas referências, não só através dos desfiles, mas também com as imagens que compartilho nas redes sociais. Parece-me fundamental partilhar estas referências fotográficas, que fazem parte do universo Jacquemus.

“O Sul da França faz parte da minha identidade e da Jacquemus. As paisagens e visões com as quais cresci alimentam constantemente as minhas coleções.”

Nas suas roupas, mesmo as mais estrutura- das, emerge uma poesia do corpo. É importante para você manter essa qualidade?

Para mim, é muito importante manter essas formas específicas nas minhas criações em cada estação. Gosto de encontrar referências em coleções antigas da Jacquemus e reinterpretar algumas peças. Esse exercício é essencial para mim.

Foto: Adrien Dirand Foto: Adrien Dirand
Foto: Adrien Dirand

O que exatamente atrai os clientes em suas coleções? Que feedback você recebe de suas boutiques?

Eu não saberia dizer exatamente o que os clientes procuram. Espero que seja o universo Jacquemus, ou seja, uma energia positiva, sensual e solar. Uma poesia que emerge das roupas... Um sorriso.

 

A inauguração de sua boutique na Avenue Montaigne gerou uma fila de espera de um quarteirão inteiro. Você está orgulhoso desse sucesso em uma avenida tão emblemática do luxo parisiense?

Estou muito orgulhoso de ter aberto uma boutique Jacquemus na Avenue Montaigne. Como estilista independente, parecia impossível conseguir me estabelecer ali, ao lado das gigantes do luxo. É um sonho de infância. Estou muito orgulhoso do progresso que fizemos com as minhas equipes, foi um evento emblemático para nós e para os nossos clientes. A minha vontade é que as pessoas possam viver uma experiência Jacquemus imersiva, descobrir as peças, tocar nos materiais e descobrir as obras de arte que me inspiram... Passear pelos espaços como em uma galeria de arte, comendo pipoca! Jacquemus também é isso, não é só vir comprar um produto, mas ter uma experiência.

“Estou muito orgulhoso de ter aberto uma boutique Jacquemus na Avenue Montaigne. Como estilista independente, parecia impossível conseguir me estabelecer ali, ao lado das gigantes do luxo. É um sonho de infância.”

Enquanto muitos jovens estilistas lançam sua marca na esperança de serem recrutados por uma grande maison de luxo, você já declarou diversas vezes seu desejo de trabalhar com seu próprio nome. Como você planeja desenvolver sua marca?

Quero permanecer independente, isso me parece essencial. Lancei a Jacquemus para poder criar minha versão de moda e me divertir com códigos, formas e materiais, de forma livre. Numa grande maison, eu provavelmente perderia essa liberdade...