23 FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália

FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália

Cultura

Compartilhe esse arquivo

A região do Vêneto conecta os projetos do arquiteto brasileiro ao berço da grife italiana Bottega Veneta, que apoia a abertura de uma nova mostra na Casa Zalszupin, em São Paulo

Uma das frases mais conhecidas de Oscar Niemeyer diz que a vida é um sopro. “Mas que fôlego ele teve”, nos lembra o escritor, curador e pesquisador ítalo-brasileiro Francesco Perrotta-Bosch em conversa com Lissa Carmona, fundadora da ETEL Design e embaixadora da Fundação Oscar Niemeyer, em uma noite de dezembro na recém-revelada nova boutique da Bottega Veneta no shopping JK Iguatemi, em São Paulo. É que um dos lugares para onde Niemeyer levou os traços da arquitetura moderna brasileira foi Vicenza, cidade da região do Vêneto onde nasceu, em 1966, a marca italiana.

 

Foram 13 projetos de Niemeyer na Itália (apenas quatro deles, de fato, construídos). Juntos, compõem a exposição “Oscar Niemeyer in Italia”, que ocupa a Casa Zalszupin até 14 de março de 2026, depois da estreia durante a semana de design de Milão deste ano. Mais do que pela afinidade geográfica, a mostra encontra no apoio da grife uma conexão sólida: “a aproximação da moda com a arquitetura fala de espaço, da relação do corpo. Arquitetura é um fator definidor de identidade, assim como a moda”, diz Lissa, o nome por trás da Casa Zalszupin.

  • FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália

Cadeira de Balanço Rio, no contexto da exposição que ocupa o térreo, além do primeiro e segundo pisos da Casa Zalszupin (Ruy Teixeira/Casa Zalszupin/Divulgação)

Entre os projetos ali expostos, estão o Palazzo Mondadori (1970-1975), sede da editora em Milão, e o Palazzo Fata (1977), em Turim. Entre os projetos que nunca deixaram o papel, há o teatro de Vicenza e a proposta de Niemeyer para a Ponte dell’Accademia: “Uma ponte em Veneza… Branca, leve e graciosa, como o concreto permite. Coberta, convidando os visitantes a parar um pouco e, sobre o canal, sentirem como é bela essa cidade”, escreve o arquiteto, de maneira poética, no projeto de 1985.

  • FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália
  • FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália
  • FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália

A Ponte dell’Accademia de Oscar Niemeyer para Veneza, 1985 (Fundação Oscar Niemeyer)

1/3

Para além da arquitetura, a mostra apresenta o mobiliário desenhado por Niemeyer em parceria com a filha, Anna Maria Niemeyer. O ponto alto é a “Marquesa Vermelha”: um item raro, com produção limitada a edifícios assinados pelo arquiteto, como o Memorial da América Latina (hoje, existem apenas cinco exemplares no mundo; o que se vê na Casa Zalszupin foi um empréstimo feito diretamente pela família Niemeyer).

 

“Tem um texto do Lúcio Costa – que durante a faculdade eu aprendi a chamar de Dr. Lúcio – que é um texto fundamental na história da arquitetura brasileira. Ele se chama ‘Muita Construção, Alguma Arquitetura e um Milagre’. Isso é 1951. ‘Muita construção’ era ver que no Brasil todo, o país estava crescendo. Eram décadas de muito crescimento; a cidade do Rio de Janeiro estava se desenvolvendo; São Paulo deixou de ser um vilarejo de 20 mil pessoas para ser uma população de 3 milhões em pouquíssimas décadas. Tinha ‘alguma arquitetura’: havia bons arquitetos modernos, o próprio Lúcio Costa, Alcides da Rocha Miranda... mas havia um ‘milagre’. Quem era o milagre? O milagre era Oscar Niemeyer. Em 1951, quando o Oscar tinha 43 anos, ele [Lúcio Costa] afirma que há muitos arquitetos bons, mas que esse é especial. É um milagre”, explica Francesco, sobre o ensaio que orienta também seu texto curatorial para a mostra. 

  • FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália FASHION CURATED: Oscar Niemeyer na Itália

A fachada da nova boutique da Bottega Veneta no shopping JK Iguatemi: fotos contemporâneas de Luísa Porta retratam a arquitetura de Niemeyer em diálogo com as premissas de design da grife (Ruy Teixeira/Casa Zalszupin/Divulgação).